Conheci um pouco da obra de Paulo Leminski em 2014 quando minha mãe chegou com um livro de seleção de poemas dele. Como sempre fui faminta por livros não pensei nem duas vezes para começar, e desde então me apaixonei pela poesia concreta.
Como tenho muitos poemas "queridinhos" hoje trago cinco deles para vocês apreciarem!
O assassino era o escriba
Meu professor de análise sintática era o tipo do sujeito inexistente.
Um pleonasmo, o principal predicado de sua vida,
regular como um paradigma da 1ª conjunção.
Entre uma oração subordinada e um adjunto adverbial,
ele não tinha dúvidas: sempre achava um jeito
assindético de nos torturar com um aposto.
Casou com uma regência.
Foi infeliz.
Era possessivo como um pronome.
E ela era bitransitiva.
Tentou ir para os EUA.
Não deu.
Acharam um artigo indefinido na sua bagagem.
A interjeição do bigode declinava partículas expletivas,
conectivos e agentes da passiva o tempo todo.
Um dia, matei-o com um objeto direto na cabeça.
Objeto do meu mais desesperado desejo
Objeto
de meu mais desesperado desejo
não seja aquilo
por quem ardo e não vejo
seja estrela que me beija
oriente que me reja
azul amor beleza
faça qualquer coisa
mas pelo amor de deus
ou de nós dois
SEJA
de meu mais desesperado desejo
não seja aquilo
por quem ardo e não vejo
seja estrela que me beija
oriente que me reja
azul amor beleza
faça qualquer coisa
mas pelo amor de deus
ou de nós dois
SEJA
Dois loucos no bairro
um passa os dias
chutando postes para ver se
acendem
um passa os dias
chutando postes para ver se
acendem
o outro as noites
apagando as palavras
contra um papel branco
apagando as palavras
contra um papel branco
todo bairro tem um louco
que o bairro trata bem
só falta mais um pouco
pra eu ser tratado também
que o bairro trata bem
só falta mais um pouco
pra eu ser tratado também
Nem toda hora
nem toda hora
é obra
nem toda obra
é prima
algumas são mães
outras irmãs
algumas
clima
é obra
nem toda obra
é prima
algumas são mães
outras irmãs
algumas
clima
Descontrários
Mandei a palavra rimar,
ela não me obedeceu.
Falou em mar,em céu, em rosa,
em grego,em silêncio, em prosa.
Parecia fora de si,
a silaba silenciosa.
Mandei a frase sonhar,
ela se foi num labirinto.
Fazer poesia ,eu sinto,apenas isso.
Dar ordens a um exército,
para conquistar um império extinto
ela não me obedeceu.
Falou em mar,em céu, em rosa,
em grego,em silêncio, em prosa.
Parecia fora de si,
a silaba silenciosa.
Mandei a frase sonhar,
ela se foi num labirinto.
Fazer poesia ,eu sinto,apenas isso.
Dar ordens a um exército,
para conquistar um império extinto